quinta-feira, 5 de março de 2009

05/03/2009

Marco entra numa cidade; vê alguém numa praça que vive uma vida ou um instante que poderiam ser seus; ele podia estar no lugar daquele homem se tivesse parado no tempo tanto tempo atrás, ou então se tanto tempo atrás numa encruzilhada tivesse tornado uma estrada em vez de outra e depois de uma longa via­gem se encontrasse no lugar daquele homem e naquela praça.
Agora, desse passado real ou hipotético, ele está excluído; não pode parar; deve prosseguir ate uma outra cidade em que outro passado aguarda por ele, ou algo que talvez fosse um possível futuro e que agora é o presente de outra pessoa. Os futuros não realizados são apenas ramos do passado: ramos secos.
— Você viaja para reviver o seu passado? — era, a esta altura, a pergunta do Khan, que também podia ser formulada da seguinte maneira: — Você viaja para reencontrar o seu futuro?
E a resposta de Marco:
— Os outros lugares são espelhos em negativo. O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá.”


Ítalo Calvino - Cidades Invisíveis - p.30



Só eu conheço o prazer da paisagem branca.

2 comentários:

Ana disse...

Lindo...

Francisco disse...

No inicio era o “branco” ….. que imperava
Será que podemos dizer que tudo vem do “branco”?
Que tudo acaba no “branco”?
Que o “branco” é uma espécie de palco/cenário para tudo o resto?
O “branco” será a uma “totalidade”?
Um fim?
Um meio?
A cor de partida… ? A meta na chegada?
Será o caleidoscópio do todo e do nada?
No branco o TODO e o NADA poderão coexistir?
Qual será a fronteira do “branco”?
Deste universo de interrogações só tenho uma certeza!
São poucos os eleitos que compreendem o branco! E mais restrito ainda é o grupo dos que sabem trabalhá-lo! Dos que sabem dialogar com ele!
E tu és sem dúvida um desses eleitos.